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Influência do efeito peculiar nas perdas nas linhas aéreas de corrente alternada

Publicado: 24 de setembro de 2018 Categoria: Artigos técnicos

O efeito pelicular é um fenómeno que se verifica em corrente alternada (ca), em que a densidade de corrente é maior junto à superfície do condutor do que no seu interior. Leia tudo neste artigo técnico do Engº Manuel Bolotinha.

Influência do efeito peculiar nas perdas nas linhas aéreas de corrente alternada

1. O QUE É O EFEITO PELICULAR

O efeito pelicular é um fenómeno que se verifica em corrente alternada (ca), em que a densidade de corrente é maior junto à superfície do condutor do que no seu interior (1).

Este efeito resulta das correntes induzidas (ou de Foucault) devidas à variação do campo magnético e que se opõem à corrente do circuito.

A corrente eléctrica fluí principalmente junto à superfície do condutor e o seu fluxo é menor nas camadas interiores, designando-se a parte do condutor em que a corrente eléctrica circula por profundidade de penetração (δ), o que se ilustra na Figura 1.

Figura 1 – Representação do efeito pelicular num condutor e respectiva profundidade de penetração

A consequência directa e mais relevante do efeito pelicular é a diminuição da secção útil do condutor a que corresponde a um aumento da sua resistência e das perdas por efeito de Joule.

 

2. RESISTÊNCIA E PERDAS NUM CONDUTOR EM CORRENTE ALTERNADA

Em corrente contínua, a resistência de um condutor é calculada pela expressão:

RCC [Ω] = ρ x l/s     [1]

Onde:

  • ρ – resistividade do material do condutor [Ωkm/mm2]
  • l – comprimento do condutor [km]
  • s – secção do condutor [mm2]

su [mm2] = πd2/4 – π(d-δ)2/4     [2]

Sendo I [A] a corrente nominal da instalação, a potência de perdas (Pp) no condutor por efeito de Joule são calculadas pela expressão:

Pp [W] = RI2     [3]

Considerando o comprimento do condutor unitário (l = 1 km), a resistência unitária em corrente contínua (R’CC) será:

R’CC = ρ/s     [4]

Veja-se agora a situação em corrente alternada, tendo em atenção o efeito pelicular.

Sendo d o diâmetro do condutor e δ a profundidade de penetração, a secção útil do condutor é

su [mm2] = πd2/4 – π(d-δ)2/4     [5]

Considerando o comprimento do condutor unitário (l = 1 km), a resistência unitária em corrente alternada (R’CA) será:

  [6]

Das expressões [4] e [6], obtém-se:

   [7]

Analise-se agora a determinação de δ. A profundidade de penetração depende de:

  • Resistividade do condutor (ρ)
  • Velocidade angular (ω=2πf, onde f é a frequência [Hz])
  • Permeabilidade relativa do condutor (µr [adimensional])

Fazendo:

  • µ = µr x µ0, onde µ0 é a permeabilidade do vácuo (4πx10-7 H/mhenry por metro, ou seja 4πx10-4 H/km)

A profundidade de penetração é calculada pela expressão

   [8]

Da expressão [7] conclui-se que

, logo R’CA > R’CC.

Tendo e consideração o parágrafo anterior e a expressão [3] conclui-se que as perdas em corrente alternada são maiores que as perdas em corrente contínua, para o mesmo material (o valor de µr depende apenas do tipo de material do condutor) e a mesmo diâmetro exterior do condutor, isto é (para uma corrente I [A] por condutor):

P’CA [W/km] = R’CAI2 > P’CC [W/km] = R’CCI2     [9]

 

3. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Os exemplos serão apresentados para o cabo nu do tipo AL-4 (antigo ASTER), utilizado em Portugal nas linhas aéreas e nos barramentos tendidos das subestações. É um cabo em liga de alumínio com condutores cableados concêntricos, compostos por uma ou mais camadas de fios de liga de alumínio, de acordo com as Normas EN(2) 50182 e 50183.

Para este tipo de cabo os valores da resistividade e da permeabilidade relativa são:

  • ρ ≈ 31,5 (Ω/mm2)/km
  • µr ≈ 1,000022, logo µ ≈ 1,000022 x 4πx10-4 ≈ 0,00126 H/km

Considerem-se os cabos 570AL-4 (ASTER 570) e 851AL-4 (ASTER 851), os mais habitualmente utilizados pela REN, e ainda os cabos 117 AL-4 (ASTER 117) e 148AL-4 (ASTER 148), sendo os resultados apresentados na Tabela 1, para f = 50 Hz.

Tabela 1 – Variação da resistência em cabos do tipo AL-4 por efeito pelicular:

 

....................................................................................

(1) Este efeito não se verifica nos cabos subterrâneos, devido ao isolamento dos condutores.

(2) EN: Normas Europeias

 

AUTOR: Manuel Bolotinha

Engenheiro Electrotécnico – Energia e Sistemas de Potência (IST – 1974)

Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores (FCT-UNL – 2017)

Consultor em Subestações e Formador Profissional