Tanto disjuntores como interruptores são mecanismos que constante marcam presença no dia-a-dia dos nossos profissionais. Mas será que conhece o seu funcionamento tão bem quanto pensa? Descubra tudo em mais um artigo técnico da autoria de Eng.º Manuel Bolotinha.

1. DISJUNTORES DE BAIXA TENSÃO
Os disjuntores de baixa tensão (BT1) são equipamentos de corte, manobra e protecção, cuja principal função é a protecção dos circuitos de utilização e de alimentação de quadros eléctricos e dos equipamentos contra sobrecargas e curto-circuitos, incorporando para tal disparadores adequados para essa função
As características, dimensionamento, instalação e ensaios dos disjuntores BT obedecem a um conjunto de documentos legais – os Regulamentos, devendo em Portugal devem ser observado o seguinte:
- RTIEBT (Regras Técnicas das Instalações Eléctricas em Baixa Tensão) – Portaria nº 949-A/2006 de 11 de Setembro.
As normas habitualmente utilizadas para a definição das características e ensaios destes equipamentos são:
- NP e NP EN (Normas Portuguesas e Normas Portuguesas Harmonizadas com as Normas Europeias)
- EN (Normas Europeias)
- IEC (International Electrical Commission), designadamente
- 60038 – IEC standard voltages:
- 60364 – Electrical installations for buildings
- 60439 – Low voltage switchgear and controlgear assemblies
- 60947 – Low voltage switchgear and controlgear
- 61912 – Low voltage switchgear and controlgear – overcurrent protection devices
- 60934 – Circuit breaker for equipments (CBE)
- 60898 – Electrical accessories – Circuit breaker for overcurrent protection for household and similar installations
- 60755 – General requirements for residual current operated devices
- 61000 – Electromagnetic compatibility (EMC)
- 60529 - Degrees of protection provided by enclosures (IP Code)
- 62262 - Degrees of protection provided by enclosures for electrical equipment against external mechanical impacts (IK code)
Os disparadores dos disjuntores BT são dos seguintes tipos:
- Térmicos, com elementos bimetálicos)2, para a protecção contra sobrecargas (designação TO, de acordo com a Norma IEC 60934).
- Magnéticos, por meio de um solenoide, para a protecção contra curto-circuitos (designação MO, de acordo com a Norma IEC 60934).
- Uma combinação de ambos (designação TM, de acordo com a Norma IEC 60934).
Os disjuntores BT podem ainda ser equipados com disparadores sensíveis à corrente diferencial-residual, para protecção das pessoas contra defeitos à terra (protecção diferencial – ver Capítulo 3).
As curvas Tempo-Corrente permitem determinar a rapidez do disparo do disjuntor em função do valor da corrente, estando divididas em duas partes, como se mostra na Figura 1:
- Componente da protecção contra sobrecargas (parte superior da curva).
- Componente da protecção contra curto circuitos (parte inferior da curva).
Figura 1 – Curva típica Tempo-Corrente de um disjuntor BT
Estas curvas são apresentadas em bandas, podendo a actuação do disjuntor acontecer para qualquer valor situado no interior da banda. Os tipos de curvas habituais, de acordo com as Normas IEC 60898 e 60947 são:
- Tipo B: limiar de disparo magnético muito baixo (utilizável em circuitos muito longos com correntes de curto-circuitos de valor reduzido).
- Tipo C: o seu limiar de disparo magnético permite-lhe a utilização na maioria das situações comuns.
- Tipo D: limiar de disparo magnético alto permite utilizá-lo na protecção de circuitos com elevadas pontas de corrente de arranque, como é, por exemplo o caso dos motores.
Existem ainda disjuntores destinados exclusivamente à protecção de motores, dos seguintes tipos:
- Disjuntores magnéticos: estes disjuntores dispõem apenas de disparadores magnéticos, destinados à protecção contra curto-circuitos, sendo utilizados em associação com relés térmicos. O disjuntor não dispara em caso de sobrecarga e suporta os picos de corrente provocados pelo arranque do motor.
- Disjuntores-motor: estes disjuntores dispõem de disparadores térmicos reguláveis, destinados à protecção de sobrecargas e disparadores magnéticos, destinados à protecção contra curto-circuitos.
Nos disjuntores BT o corte é feito no ar, fazendo-se a extinção do arco numa câmara própria para o efeito (por divisão do arco eléctrico).
Podem ter 1, 2, 3 ou 4 pólos (nos disjuntores de 2 e 4 pólos de corrente alternada, o pólo do condutor de neutro não tem habitualmente disparador).
Na Figura 2 mostra-se um exemplo da câmara de corte de um disjuntor BT.
Figura 2 – Câmara de corte de um disjuntor BT
As características dos disjuntores BT são:
- Tensão estipulada3
- Corrente alternada: 60; 120; 240/120; 220; 230; 240; 380/220; 400/230; 415/240; 380; 400; 415; 440 V.
- Corrente contínua: 12; 24; 48; 60; 120; 240; 250 V.
- Corrente estipulada (In) – de 2 A a 6300 A, dependendo do modelo.
- Poder de corte estipulado – até 150 kA, dependendo do modelo e da corrente estipulada.
- Corrente convencional de funcionamento (If) – corrente mínima que provoca a actuação do disjuntor.
- Corrente convencional de não funcionamento (Inf) – valor da corrente que o disjuntor é capaz de conduzir sem actuação, durante um tempo definido (designado por tempo convencional), expresso como um múltiplo de In (exemplo: Inf = 1,25xIn).
Os disjuntores BT são habitualmente instalados em quadros eléctricos BT e são construídos basicamente em três modelos:
- Disjuntores modulares (ou miniatura), designados pela sigla inglesa MCB (Miniature circuit breaker): para correntes estipuladas entre 2 A e 100 A; são normalmente montados em calha DIN (Figura 3).
- Disjuntores compactos (ou em caixa moldada), designados pela sigla inglesa MCCB (Molded case circuit breaker): para correntes estipuladas entre 125 A e 2500/3200 A (Figura 4).
Disjuntor para correntes elevadas: para correntes estipuladas entre 2500/3200 A e 6300 A (Figura 5).

Figura 3 – Disjuntor BT modular montado em calha DIN

Figura 4 – Disjuntor BT compacto

Figura 5 – Disjuntor BT para correntes elevadas
Os disjuntores BT são habitualmente comandados local e manualmente, mas para aplicações específicas (por exemplo, paralelo de transformadores) podem ser motorizados e comandados à distância e automaticamente.
A selectividade entre disjuntores pode ser definida como a coordenação entre eles, para que um defeito seja eliminado pelo disjuntor imediatamente localizado a montante do ponto de defeito, e apenas por esse.
São utilizados dois princípios para estabelecer a selectividade:
- Discriminação em corrente.
- Discriminação em tempo.
A discriminação em corrente é utilizada para as protecções contra sobrecargas, garantindo-se habitualmente a selectividade se a relação da regulação dos disparadores térmicos de dois disjuntores consecutivos for igual ou superior a 1,6.
A discriminação em tempo é utilizada para as protecções contra curto-circuitos, garantindo-se habitualmente a selectividade se a relação da regulação dos disparadores magnéticos de dois disjuntores consecutivos for igual ou superior a 1,5.
2. INTERRUPTORES DE BAIXA TENSÃO
Os interruptores BT são equipamentos de corte e manobra, utilizados habitualmente para isolamento dos circuitos, com capacidade para o estabelecimento e a interrupção da corrente de serviço, fazendo-se a extinção do arco no ar, numa câmara própria para o efeito.
Os interruptores BT obedecem aos mesmos regulamentos e normas que os disjuntores BT, são também habitualmente instalados em quadros eléctricos BT e podem, tal como os disjuntores BT, ser equipados com disparadores sensíveis à corrente diferencial-residual.
Os interruptores BT podem ter 1, 2, 3 ou 4 pólos (nos interruptores de 2 e 4 pólos de corrente alternada) e as suas características são:- Tensão estipulada.
- Corrente alternada: 60; 120; 240/120; 220; 230; 240; 380/220; 400/230; 415/240; 380; 400; 415; 440 V.
- Corrente contínua: 12; 24; 48; 60; 120; 240; 250 V.
- Corrente estipulada (In) – de 20 A a 6300 A, dependendo do modelo.
Os interruptores BT são construídos basicamente em três modelos:
- Interruptores modulares: para correntes estipuladas entre 20 A e 125 A; são normalmente montados em calha DIN.
- Interruptores compactos: para correntes estipuladas entre 125 A e 2500/3200 A.
- Interruptor para correntes elevadas: para correntes estipuladas entre 2500/3200 A e 6300 A.
Os interruptores BT são habitualmente comandados local e manualmente, mas para aplicações específicas (por exemplo, nos inversores automáticos rede-grupo ou no deslastre de cargas) podem ser motorizados e comandados à distância e automaticamente.
3. DISPARADORES SENSÍVEIS À CORRENTE DIFERENCIAL-RESIDUAL (PROTECÇÃO DIFERENCIAL)
Como referido anteriormente os disjuntores e interruptores BT podem ser equipados com disparadores sensíveis à corrente diferencial-residual, para protecção das pessoas contra defeitos à terra.
Estes dispositivos de corte e protecção são designados por disjuntores diferenciais e interruptores diferenciais, respectivamente, sendo o seu princípio de funcionamento ilustrado na Figura 6.
Figura 6 – Princípio de funcionamento dos dispositivos à corrente residual-diferencial
Em situações normais, sem defeito, verifica-se que a soma das correntes que é vista pelo toro é nula, isto é:
I1+I2+I3+IN = 0
Em caso de defeito tal não acontece, isto é:
I1+I2+I3+IN ≠ 0 I1+I2+I3+IN = -IF
Para além das características definidas nos capítulos anteriores para os disjuntores e interruptores BT, outra característica que é necessário considerar nestes dispositivos é a corrente residual-diferencial estipulada (IΔn), que em Portugal, de acordo com as RTIEBT é definida como a “soma algébrica dos valores instantâneos das correntes que percorrem todos os condutores activos de um circuito num dado ponto da instalação eléctrica” em situação de defeito fase-terra.
Os dispositivos sensíveis à corrente residual-diferencial estão divididos em três grupos, de acordo com os valores daquela corrente:
- Alta sensibilidade: 6; 10; 30 mA.
- Média sensibilidade: 100; 300; 500; 1000 mA.
- Baixa sensibilidade: 3; 10; 30 A.
A sensibilidade dos disjuntores e interruptores diferenciais BT a adoptar depende do tipo de circuito e do tipo de local, encontrando-se, em Portugal, os seus valores máximos definidos nas RTIEBT.
Ainda segundo este regulamento, nas instalações e circuitos sem condutor de protecção (PE), a utilização de dispositivos diferenciais, ainda que de corrente diferencial-residual estipulada IΔn ≤ 30 mA, não deve ser considerada como uma medida de protecção suficiente contra os contactos indirectos.
Manuel Bolotinha, MSc, é licenciado em Engenharia Electrotécnica (Ramo de Energia e Sistemas de Potência) pelo IST/UL – 1974 – e Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores pela FCT-UNL – 2017.
A sua actividade profissional desenvolve-se nas áreas do projecto, fiscalização de obras e gestão de contratos de empreitadas de instalações eléctricas de alta média e baixa tensão, não só em Portugal, mas também em África, na Ásia e na América do Sul.
É membro Sénior da Ordem dos Engenheiros e membro do IEEE, Formador Profissional, credenciado pelo IEFP, conduzindo cursos de formação, de cujos manuais é autor, em Portugal, África e Médio Oriente e autor de diversos artigos técnicos publicados em Portugal e no Brasil e de livros técnicos, em português e inglês, e tem proferido palestras na OE, ANEP, FCT-UNL, IST e ISEP.
[1] BT: U ≤ 1 kV (ca), de acordo com o estipulado na Norma IEC 60038 – IEC standard voltages.
[2] Os elementos bimetálicos são constituídos por dois metais diferentes, com coeficientes de dilatação diferentes. Quando ocorre uma sobrecarga a dilatação dos metais provoca um “encurvamento” da placa bimetálica, que origina o disparo do disjuntor.
[3] Valor estipulado (para equipamentos): Valor de uma grandeza fixado, em regra, pelo fabricante para um dado funcionamento especificado de um componente, de um dispositivo ou de um equipamento; este valor corresponde ao anteriormente designado por “valor nominal”, designação que actualmente é apenas utilizada para redes.