Os hospitais caracterizam-se por terem horários alargados de funcionamento com algumas áreas de utilização ininterrupta e por serem instalações de elevadas exigências ao nível de conforto térmico e visual, à qualidade do ar interior e à utilização de múltiplos equipamentos de diagnóstico e tratamento. Estas exigências traduzem-se em enormes consumos de energia, que colocam os hospitais como um dos sectores com o maior valor de intensidade energética com um rácio de 2,83 GJ/m².

Neste artigo abordaremos apenas a iluminação e o seu contributo para a melhoria da eficiência energética. O objectivo das instalações de iluminação deve ser o de garantir os níveis de luminância recomendados, com conforto visual onde este for importante e não ultrapassar os valores de densidade de potência definidos nas Normas, consumindo o mínimo possível de recursos energéticos.
Não confundir, no entanto, eficiência energética com o conceito de poupança de energia, já que é preciso garantir sempre que, menores consumos de energia não sejam feitos à custa de menores níveis de iluminação e à adulteração de outros parâmetros de qualidade essenciais numa boa iluminação.
1. Importância de uma boa iluminação
O bem-estar em qualquer ambiente e em particular no ambiente hospitalar é, em grande parte, condicionado por bons níveis de conforto relacionados com temperatura, qualidade do ar, conforto acústico e também com a qualidade da luz. Uma boa iluminação que garanta o nível de iluminação adequado a cada situação e o conforto visual tem uma influência significativa no estado emocional dos doentes e dos profissionais de saúde.
2. Legislação - Normas e recomendações
- EN 12464-1:2007 - Light and lighting - Lighting of work places - Part 1: Indoor work places;
- EN 15193:2007 - Energy performance of buildings - Energy requirements for lighting;
- Decreto-Lei n.º 118/2013 de 20 de Agosto, que estabelece os requisitos de desempenho térmico e energético, bem como a metodologia de caracterização do desempenho dos edifícios;
- Portarias n.º 349-A/2013 e 349-B/2013 de 29 de Novembro;
- Portarias n.º 349-C/2013 e 349-D/2013 de 2 dezembro.
No seu conjunto constituem o regime geral e a regulamentação específica de base sobre:
- Sistema de Certificação Energética de Edifícios (SCE);
- Regulamento de Desempenho Energético dos Edifícios de Habitação (REH);
- Regulamento do Desempenho Energético dos Edifícios de Comércio e Serviços (RECS).
A Portaria n.º 349-D/2013 aborda a instalação de iluminação e define os requisitos de:
- Densidade de potência – DPI - expresso em (W/m2/100 lux);
- De controlo, regulação de fluxo, monitorização e gestão.
- RTIEB T – Regras Técnicas das Instalações Elétricas de Baixa Tensão;
- Directiva 2006/95/CE – Directiva de Baixa Tensão;
- Directiva 2004/108/CE – Relativa à compatibilidade Electromagnética.
3. Importância de um bom diagnóstico
Antes de intervir numa determinada área recomenda-se que se faça um diagnóstico completo da instalação através das medições dos níveis de iluminação, da potência instalada e do consumo de energia.
Devem avaliar-se igualmente outros aspectos do estado geral das instalações de iluminação. A título de exemplo sugerem-se as seguintes avaliações:
Potência
- expressa em watt (W);
- pretende-se que tenha o valor mais baixo possível;
- a potência é frequentemente associada às grandezas W/m² ou W/m²/100 lux, designando-se por DPI – Densidade de Potência. Estes parâmetros são obtidos nos projectos luminotécnicos e regulamentados pela Portaria 349-D;
- não esquecer de contabilizar as perdas associadas (balastros indutivos ou electrónicos).
Consumo/utilização de energia
- expressa em quilowatt-hora (kWh);
- representa a energia eléctrica efectivamente consumida por uma instalação durante um determinado período de tempo.
Níveis de luminância
- utilizar luxímetros calibrados nas medições.
4. Parâmetros luminotécnicos
4.1. Norma EN 12464-1
4.2. Portaria 349-d
5. Identificação/avaliação do estado da instalação
Feitas as medições é preciso fazer a avaliação dos valores medidos à luz dos valores definidos na Norma e na Portaria atrás referidas, e decidir as acções a tomar e o grau dessas acções.
6. A solução de iluminação mais eficiente
Para encontrar a melhor solução energética devemos ter em consideração:
- A escolha de luminárias eficientes, com rendimentos elevados.
- A optimização da distribuição das luminárias
- Com o programa de cálculo DIALUX/RELUX pode ser calculada a distribuição ideal.
- Deve, no entanto, ter-se sempre presente o aspecto qualitativo da iluminação, nomeadamente:
- Luminárias com características de anti-encadeamento que permitam um conforto visual – UGR<19;
- Em aplicações muito especiais seleccionar luminárias de baixa/muito baixa luminância.
Caso prático que evidencia a importância do rendimento das luminárias
Vejamos um exemplo com duas luminárias, ambas com reflectores parabólicos em alumínio, mas com rendimentos significativamente diferentes: 64% e 93%.
Cálculo dialux
Feita uma análise comparativa entre estas duas luminárias, constata-se que para a mesma quantidade de luminárias, equipadas com a mesma lâmpada (1x49 W), a opção pela luminária de maior rendimento permite-nos não só obter um nível adequado à utilização do espaço em estudo bem como reduzir o consumo específico por 100 lux em mais de 30%, apesar de termos a mesma potência específica w/m2.
7. Sistemas de controlo de iluminação
Para maximizar a eficiência energética da instalação de iluminação, recorre-se à utilização de sistemas de controlo/gestão de iluminação.
- Objectivo: poupar energia durante as horas de ocupação dos espaços, sem desvantagens para o seu utilizador;
- Como: utilizando balastros electrónicos adequados para a regulação de fluxo associados a sensores de presença e de luminosidade. Estes sensores podem ser integrados nas luminárias ou instalados separadamente.
7.1. Sensores de luz constante
Permitem aproveitar a iluminação natural ao longo de todo o dia utilizando-se apenas a iluminação artificial como complemento, na quantidade necessária e suficiente para manter o nível de iluminação predefinido.
Os sensores de luminosidade serão mais eficientes quanto maior for a componente de luz natural.
7.2. Detectores de presença/movimento
Permite que a iluminação, quando não é necessária, possa ser desligada automaticamente ou reduzida e mantida num nível mínimo de segurança. Se um determinado espaço não tem ninguém a ocupá-lo durante períodos de tempo prolongados, não faz sentido que a iluminação permaneça ligada, pelo menos no seu nível máximo.
7.3. Multissensores diversos
Associam as funções de sensor de luz constante e deteção de presença.
SMART Sensor
DSI-SM ART PTM
DALI MSensor
MS 2001
7.4. Corridor FUNCTION - para as zonas de circulação
É um sistema que apenas necessita de detectores de presença e de luminárias equipadas com balastros electrónicos reguláveis. O sistema, ao não detectar movimento, não desliga abruptamente a iluminação, mas reduz o seu nível para valores definidos e só o desliga se essa opção for pretendida e após um período de tempo predefinido.
Logo que se detecte movimento, o sistema de iluminação é activado para o seu nível máximo.
O desenho abaixo apresenta uma curva que relaciona o nível de regulação e o consumo das luminárias, onde se constata que para um nível de regulação de 1% do fluxo luminoso emitido pelas lâmpadas, o consumo é de 10% da potência total.
7.5. Gestão centralizada de iluminação – sistemas
Com a ajuda de software e hardware adequados é possível gerir, de forma automática, todas as luminárias individualmente ou em grupo, quanto ao nível de iluminação e aos horários de funcionamento.
Um sistema DALI, por exemplo, permite ajustar a cada momento as necessidades de iluminação de uma instalação. Permite igualmente responder a mudanças num edifício, quer dos layouts quer das funções, sem alterar a cablagem da instalação de iluminação.
8. Viabilidade económica
Outra questão importante é saber se os investimentos, principalmente os mais pesados em termos económicos, se justificam. Essa decisão só poderá ser tomada conhecido o estudo de viabilidade económica que calcula o prazo de amortização do investimento. Um investimento é economicamente viável se o payback não for superior a 3 anos.
Apresentado esse estudo competirá ao dono de obra decidir.
Para esta análise de payback sugerimos o preenchimento da Tabela 1 que nos permitirá resumir os parâmetros essenciais para tomar uma decisão.
9. Conclusão
Melhorar a eficiência energética é o resultado de muitas acções que são tomadas a diferentes níveis, nomeadamente:
- Na selecção de luminárias eficientes - com lâmpadas T5 ou com LEDs;
- Na opção, em cada momento, pela melhor solução energética;
- Na adopção de sistemas de gestão de preferência automáticos associados a multissensores (sensores de presença e/ou sensor de luminosidade).
Os primeiros dois critérios permitem-lhe uma instalação de baixa potência.
O terceiro permitirá utilizar a instalação de iluminação da forma mais económica possível.
Importante mesmo é conseguir que a redução da utilização energética (kW/h) se faça sem interferir no conforto dos utilizadores, garantindo uma iluminação de qualidade com conforto visual e com o nível de iluminação recomendado.
Tabela 1.
EEE – Empresa de Equipamento Eléctrico, S.A.