Com o crescimento exponencial da mobilidade elétrica, o mundo acelera rumo a um ecossistema de carregamento mais inteligente, automatizado e interoperável. De políticas públicas ambiciosas ao avanço de protocolos como OCPP 2.1, passando pela integração de IA, robótica e V2G, a infraestrutura de carregamento está no centro da transformação rumo a uma mobilidade mais eficiente, sustentável e conectada.

Prevê-se que as vendas de veículos elétricos (VE) aumentem de 6,5 milhões em 2021 para mais de 40 milhões até 2030. Este crescimento sem precedentes exige uma expansão equivalente da infraestrutura de carregamento de VE para garantir uma adoção fluida.
No final de 2023, os pontos de carregamento públicos a nível mundial atingiram quase os 3 milhões, representando um aumento anual de 40%. A disponibilidade de estações de carregamento é agora um fator essencial para impulsionar a adoção de VEs globalmente.
Políticas governamentais que impulsionam a infraestrutura de carregamento
À medida que o mercado de veículos elétricos se acelera a nível global, as instituições públicas desempenham um papel crucial na transição, através de políticas específicas e programas ambiciosos de infraestrutura. Desde subsídios diretos a regulamentações obrigatórias, os governos procuram garantir que as redes de carregamento cresçam rapidamente, acompanhando o ritmo da adoção crescente.
Principais iniciativas globais:
-
China: 2.730.000 pontos públicos (56% carregadores rápidos DC); cobertura total em cidades e estradas.
-
EUA: 180.000 carregadores públicos (35% rápidos); meta de 500.000 até 2030 (Programa NEVI).
-
UE: 632.423 carregadores públicos (16% DC); meta de 3,5 milhões até 2030 (Regulamento AFIR).
-
Reino Unido: 53.600 carregadores públicos; meta de 300.000 até 2030.
-
Coreia do Sul: Mais de 200.000 carregadores com financiamento estatal.
-
Índia: 7.000 carregadores rápidos, com apoio público contínuo para expansão.
A infraestrutura de carregamento global está a evoluir de sistemas fragmentados e proprietários para um ecossistema sólido baseado em hardware, software e protocolos abertos interoperáveis.
A evolução do OCPP de 2009 a 2025
O OCPP foi introduzido em 2009 para promover a interoperabilidade e evitar o bloqueio de fornecedores entre estações de carregamento de VEs e sistemas de gestão de rede. Com o tempo, tornou-se um padrão global para comunicação em carregamento de VEs.
Marcos principais do OCPP:
-
OCPP 1.0 (2010): Lançado como solução open-source, estabelecendo as bases para infraestruturas mais abertas.
-
OCPP 1.6 (2015): Introdução de suporte a JSON, melhorias na autenticação e funções de carregamento inteligente como gestão e limitação dinâmica de corrente. Tornou-se o padrão da indústria.
-
OCPP 2.0 (2018): Redesenho completo, com perfis modulares e melhorias de segurança.
-
OCPP 2.0.1 (2020): Restabeleceu compatibilidade retroativa, suporte nativo ao ISO 15118, medição bidirecional e melhorias na gestão de eventos.
-
Edição 3 certificada IEC 63584 (2024): Confirmação do estatuto de padrão internacional.
-
OCPP 2.1 (2025): Adição de comandos V2G avançados, gestão de DERs, e mensagens de gestão energética mais sofisticadas.
Estas evoluções posicionam o OCPP como tecnologia central para a mobilidade inteligente do futuro.
Protocolos de roaming: viabilizando a interoperabilidade
A interoperabilidade entre operadores de pontos de carregamento (CPO) e fornecedores de serviços de mobilidade elétrica (EMSP) é vital para oferecer uma experiência fluida aos condutores de VEs.
O protocolo aberto InterCharge (OICP) da Hubject é o mais utilizado na Europa, ligando mais de 1000 empresas em 52 países e permitindo o acesso a qualquer estação de carregamento, independentemente do operador.
Outros padrões como OCPI, OCHP e eMIP também facilitam o acesso, localização, início e pagamento em redes diferentes — elementos cruciais para um ecossistema global de carregamento conectado.
Robótica e carregamento de veículos elétricos
A robótica está a revolucionar o conceito tradicional de estações fixas. Sistemas robóticos e “bots de carregamento” móveis permitem soluções autónomas, compatíveis com OCPP, que se deslocam até aos veículos, iniciam a sessão e gerem todo o processo remotamente, incluindo faturação.
Além disso, plataformas móveis de carregamento (em reboques ou drones) surgem como alternativas eficazes para cenários temporários (eventos, emergências), onde não há infraestrutura fixa disponível. A convergência entre mobilidade, automação e protocolos inteligentes está a moldar um ecossistema de carregamento mais flexível e eficiente.
Inteligência Artificial: carregamento mais inteligente
A IA está a transformar a gestão das redes de carregamento. Algoritmos de IA analisam dados de telemetria OCPP para prever falhas e agendar manutenções preventivas, minimizando tempos de inatividade.
Com a ascensão da IA generativa (GenAI), surgem agentes autónomos que detetam anomalias, identificam ameaças de cibersegurança e resolvem problemas em tempo real — reduzindo a intervenção humana.
A IA também otimiza programas de carregamento inteligente, analisando padrões de consumo e integrando dados de energia renovável para minimizar picos de consumo, maximizar o uso de energia verde e reduzir custos. Esta gestão energética inteligente é essencial para o futuro sustentável da mobilidade.
Sinergias e inovação: moldando o futuro
A convergência do OCPP 2.1, IA e robótica está a transformar profundamente o panorama do carregamento de veículos elétricos. Tecnologias como Vehicle-to-Grid (V2G) e carregamento bidirecional permitem que os VEs consumam e devolvam energia à rede, ajudando a estabilizar o sistema elétrico e a participar ativamente no mercado energético.
Inovações em blockchain oferecem maior transparência e segurança nas transações, com registos digitais imutáveis que garantem conformidade e confiança. Olhando para o futuro, soluções de cibersegurança resistentes à computação quântica serão essenciais para proteger a infraestrutura crítica.
Estes avanços apontam para um futuro onde as redes de carregamento serão totalmente inteligentes, automatizadas e integradas no quotidiano, impulsionando uma mobilidade sustentável e o desenvolvimento de cidades mais inteligentes e resilientes — baseadas em energia limpa e sistemas de transporte eficientes.