Rui Carvalhal Pereira, Diretor Geral de Iluminação da Philips Portuguesa S.A. e Coordenador da Comissão Especializada de Iluminação da AGEFE caracterizou o mercado da iluminação em Portugal, as suas evoluções e recuos, e qual o papel da AGEFE no desenvolvimento e inovação do sector no nosso país.

Revista “o electricista” (oe): A eficiência energética é um assunto muito abordado actualmente por uma questão ambiental e também de redução de custos. Neste contexto, a iluminação também se pede para ser eficiente em termos energéticos. Que soluções estão a ser desenvolvidas pelas empresas de iluminação para responder a este requisito de mercado?
Rui Pereira (RP): Sem dúvida que a eficiência energética está na ordem do dia, quer por questões ambientais, pela necessidade premente de pouparmos recursos naturais, quer a nível político e económico dada também a necessidade de redução de custos que presentemente impera na gestão de qualquer empresa e organismos públicos. Não obstante, a eficiência energética não é o mesmo que poupança de energia. Por maior eficiência energética entende-se a obtenção do mesmo resultado, mas consumindo menos recursos energéticos.
A necessidade de reduzir custos com a energia e a pouca sensibilidade para os aspectos relacionados com a iluminação levam a que se confundam os dois conceitos e se reduza a Eficiência Energética à simples poupança. Daqui poderá resultar um menor consumo de energia, mas muitas das vezes à custa de menores níveis de iluminação e adulteração de outros parâmetros de qualidade, podendo pôr em causa o conforto e desempenho visual, a saúde e a segurança, conforme as diferentes aplicações de iluminação.
oe: Isso está a alterar o mercado?
RP: Sim, este paradigma está a gerar 3 mega tendências no mercado da Iluminação: a necessidade global de mais luz, de uma forma mais eficiente, o que tem despertado para a digitalização da luz, a chamada luz digital que está a transformar o mercado. Com isto a indústria de iluminação tem investido e procurado, desde sempre, melhorar o desempenho das suas soluções, bem como sensibilizar e cooperar com os diferentes actores no sentido da implementação de soluções mais eficientes. Ao nível tecnológico, além das soluções de controlo e regulação cada vez mais avançadas e eficazes, a grande revolução dá-se com o desenvolvimento da tecnologia LED, cujos níveis de eficiência energética e qualidade da luz produzida permitem já responder às solicitações mais comuns para uma iluminação interior funcional e decorativa, iluminação de áreas e vias públicas e a iluminação arquictetural e de espectáculo. Podemos mesmo afirmar que, presentemente, existem soluções eficientes para responder a qualquer solicitação do mercado que também deve certificar-se da qualidade e performance das soluções para evitar surpresas indesejadas… A tecnologia LED é, indiscutivelmente, a sucessora das tecnologias convencionais com vantagens acrescidas no desempenho, sem comprometer a qualidade da luz, na construção e nos materiais utilizados, na flexibilidade das aplicações e na longevidade e interactividade com as tecnologias de informação e comunicação. É, portanto, neste caminho que a indústria segue a trabalhar para obter um maior desempenho e a explorar as novas oportunidade oferecidas com a digitalização da iluminação. Ressalvo que a Comissão Europeia desde 2010 que tem vindo a identificar o benefício do uso da tecnologia LED em aplicações de exterior e interior como chave para uma iluminação eficiente em termos energéticos.
“Consciencializar, formar e informar os associados e os intervenientes do mercado para os benefícios de uma Iluminação eficiente”
oe: A Iluminação Pública é um gasto desmesurável nas contas de vários organismos públicos. Já há alguma solução que os mesmos organismos possam implementar para reduzir estes gastos?
RP: Sim, já existem várias soluções que asseguram fortes reduções dos consumos energéticos ao nível da Iluminação Pública. No que respeita ao parque instalado e, dependendo da tecnologia utilizada nos equipamentos existentes, pode-se alcançar até 80% de redução no consumo de energia eléctrica, isto com a adopção das soluções energeticamente mais eficientes, onde as de tecnologia LED têm um papel importante, conjugadas com soluções de controlo e regulação dos níveis de iluminação, adequando-os às reais necessidades ao longo do período em que esta iluminação está a funcionar.
Todos os casos devem ser diagnosticados e as respectivas soluções customizados para assegurar os princípios de uma boa solução de iluminação, da eficiência, segurança, duração, entre outros. Destaco mais uma vez a importância de não sacrificar os níveis de iluminação à redução pura dos consumos e de verificar que os produtos a utilizar estão em conformidade com todos os requisitos legais exigidos como, por exemplo, os relativos ao seu ecodesign. Contrariamente ao que se esgrima relativamente aos custos da implementação destas soluções, os cálculos do custo total de propriedade demonstram claramente a respectiva viabilidade económica. Isto é de grande interesse para os municípios com condições financeiras apoiadas ou não por fundos e para operadores como as empresas de serviços energéticos. Basta para isto que se criem condições de acesso reais às vias de financiamento e a eliminação das barreiras associadas aos processos actuais de exploração e manutenção do IP em Portugal.
De referir que Portugal na sua proposta de Acordo de Parceria relativamente às prioridades de financiamento com fundos europeus até 2020 identificou a Iluminação Pública como uma prioridade de investimento para os próximos anos. No entanto gostaria de chamar a atenção que, para que existam fundos disponíveis para o investimento em projectos de iluminação é necessário que cada região do país identifique investimentos em iluminação (tanto outdoor como indoor) como prioridade e que conste claramente do programa operacional de cada região (actualmente a serem definidos). Reforço que a Iluminação LED vem responder a todas estas questões, e pode acelerar a implementação de uma Iluminação mais eficiente em Portugal. Basta que exista vontade política para tal!
Com o aumento dos custos com a energia eléctrica, naturalmente que o valor das facturas disparou, o que, a juntar às restrições orçamentais que hoje enfrentamos tem levado nalguns casos à adopção de medidas drásticas, como chegar ao ponto de desligar o todo ou parte das instalações, pondo em causa o conforto e a segurança dos utilizadores.
oe: Reduzir os custos energéticos em termos de iluminação também passa, muitas vezes, pelos comportamentos de cada um de nós em nossas casas como não deixar as lâmpadas ligadas quando não é necessário. O que pode e está ou irá fazer a AGEFE para sensibilizar as pessoas desta realidade?
RP: Sendo a AGEFE uma associação de fabricantes e distribuidores de material eléctrico e, tendo como referência os profissionais do sector, as suas acções focam-se mais nas boas práticas para uma boa Iluminação através da informação da legislação em vigor, Directivas da EU, regulamentação como a do ecodesign, etiquetagem energética, entre outras. Visa também a promoção de seminários e trabalho junto das autoridades e outras entidades, não só na divulgação e promoção em reuniões e eventos, como também no trabalho de suporte técnico sobre propostas de regulamentação. Ou seja, visa consciencializar, formar e informar os associados e os intervenientes do mercado para os benefícios de uma Iluminação eficiente. Neste sentido pretendemos realizar jornadas, eventos, formações e, uma vez mais, alertar o governo para a necessidade de se ter um Portugal bem iluminado e de forma eficiente!
oe: Na sua opinião considera que, actualmente, há uma utilização racional da energia no que diz respeito à Iluminação Pública e à iluminação individual, aquela pela qual cada um de nós é responsável?
RP: Considero que há uma cada vez maior consciencialização de todos os intervenientes para a necessidade de uma utilização racional da iluminação e daí a procura crescente por soluções mais eficientes que ofereçam, ao mesmo tempo, níveis de luz equivalentes e permitam poupanças. No entanto há que ter presente o enquadramento histórico, energético e cultural que caracterizavam até há bem pouco tempo a construção e uso das instalações de iluminação em que a ideia de conforto e segurança era associada a uma grande quantidade de luz e em que a ausência de regulamentos para o adequado dimensionamento das instalações viveu em conjunto com a ideia de energia “barata” e alguma desresponsabilização dos municípios sobre as suas instalações. Daqui resultou um parque instalado caracterizado, em geral, por uma grande potência instalada sem grandes preocupações em adequar a iluminação às reais necessidades.
Com o aumento dos custos com a energia eléctrica, naturalmente que o valor das facturas disparou, o que, a juntar às restrições orçamentais que hoje enfrentamos tem levado nalguns casos à adopção de medidas drásticas, como chegar ao ponto de desligar o todo ou parte das instalações, pondo em causa o conforto e a segurança dos utilizadores. Vem portanto do passado a deficiente utilização da energia, nada racional, que hoje se perpetua tanto na continuidade daquelas medidas radicais como na ausência de reais condições para implementar as soluções tecnológicas hoje em dia disponíveis, que contribuem para o equilíbrio e racionalidade desta balança.
“Potenciar a oportunidade dos associados gerarem mais valor, através de um forte associativismo com sentido construtivo e pedagógico”
oe: A AGEFE criou recentemente uma Comissão Especializada em Iluminação. A que se deve a criação desta Comissão e quais os seus propósitos?
RP: A AGEFE já vinha fazendo um grande trabalho em prol da Iluminação em Portugal, mas faltava-nos uma estrutura associativa que lhe fosse especificamente dedicada. Por isso criámos recentemente uma Comissão Especializada em Iluminação que integra a generalidade das empresas associadas que introduzem lâmpadas ou aparelhos de iluminação no mercado nacional, e que inclui um Grupo Dinamizador, mais restrito, formado por cinco empresas. Passámos a ter uma abordagem associativa mais sistemática e mais organizada. Com este trabalho pretendemos acompanhar a grande transformação que se está a operar na indústria da Iluminação, a consequente alteração no mercado e potenciar a oportunidade dos associados gerarem mais valor através de um forte associativismo com sentido construtivo e pedagógico. Não sendo esta uma tarefa fácil, acreditamos que estamos a escrever páginas na evolução no mercado da Iluminação em Portugal. O futuro está em soluções de iluminação mais eficientes e eficazes.
oe: A aposta na inovação e no crescimento das empresas de iluminação associadas da AGEFE é um dos objectivos da Comissão de Iluminação?
RP: Sem inovação não existe crescimento! E a inovação não deve ser apenas nos produtos que comercializamos, mas também nos serviços que as empresas podem prestar e no modus operandi. Nesse sentido a Comissão pode contribuir para a melhoria da qualidade e do conhecimento do mercado da iluminação, solidificando as práticas da boa iluminação em Portugal …
E, apesar dos tempos difíceis que atravessamos, na AGEFE continuamos a ver os desafios como oportunidades!
oe: Uma das funções da AGEFE também passa por facultar às empresas associadas a melhor informação e/ou formação e discutir os temas prementes e mais actuais. A luminotecnia e a realidade da mesma em Portugal têm suscitado opiniões divergentes no seio da AGEFE?
RP: É na discussão das ideias que se “ilumina” o caminho para o sucesso, neste caso para uma boa Iluminação. É na capacidade de agregar a diversidade e riqueza dos diferentes pontos de vista que a AGEFE e os seus associados se caracterizam. Dentro dos associados da AGEFE, a par das mais relevantes empresas de distribuição de material eléctrico estão fabricantes conceituados e marcas que investem muito na investigação e desenvolvimento de soluções de grande qualidade lumínica, e que sejam cada vez mais eficientes. Marcas que contam com técnicos reputados, experientes, informados, que discutem sem tabus, com diferentes perspectivas mas, de uma forma actual, a promoção de uma boa Iluminação em Portugal!
oe: No passado dia 18 de Fevereiro, a AGEFE em parceria com a ADENE realizou um seminário sobre a nova regulamentação energética em edifícios. Havia uma necessidade do mercado em responder correctamente a algumas lacunas existentes?
RP: Começava por dizer que esta iniciativa foi muito gratificante para a AGEFE, não só pela audiência, como pelo interesse que despertou e que muito ficou a dever à intervenção de Pedro Mateus da ADENE. Este seminário foi dirigido aos associados a fim de lhes dar a conhecer e tomarem consciência da existência desta nova regulamentação e das suas implicações na iluminação, dado que esta estava, na prática, ausente da anterior regulamentação. Este novo regulamento veio actualizar algumas necessidades latentes na Iluminação, sendo agora prioritária a sua rápida promoção e implementação na senda de uma iluminação eficiente. Como em todos os novos regulamentos levantam-se várias questões e dúvidas que só a prática permitirá que se dissipem, ou que se evidencie a necessidade de algum ajustamento. Mas as intervenções foram bastante pertinentes, elucidativas, com diferentes abordagens e opiniões, com um sentimento de que se poderia ter ido mais longe, mas o caminho faz-se caminhando … e garantidamente que estamos no bom caminho.
“Está pois nas mãos das empresas associadas aderirem a esta iniciativa e contribuírem para o desenvolvimento do mercado da Iluminação em Portugal!”
oe: Nos últimos anos, com a quebra na construção civil, a iluminação sofreu um pouco em termos de vendas mas, actualmente, a reabilitação está a permitir às empresas do sector recuperar algum do mercado anteriormente perdido. Quais as acções que a AGEFE realizou ou irá realizar para ajudar as empresas a direccionar-se para outras áreas do mesmo mercado?
RP: São várias as acções que temos levado a cabo como comunicados, seminários, estudos económicos … e pretendemos desenvolver algumas mais. Tal como as casas, que se constroem pelos alicerces/infraestruturas e não pelos telhados, também aqui pretendemos começar pela base, ou seja, que mercado temos, como tem evoluído o mercado da Iluminação em Portugal, que oportunidades temos, que tendências! Para isso estamos a conceber instrumentos de análise regular do mercado da Iluminação em Portugal, para permitir identificar as tendências de evolução do mesmo e, bem assim, focalizar e direccionar recursos para áreas em crescimento. Tendo presente a representatividade das associadas da AGEFE neste mercado estamos certos, de que tal iniciativa vai ser do maior interesse para as empresas. Tanto maior quanto sendo um mercado que está a sofrer uma mutação muito acelerada, no nosso país praticamente não existe informação útil sobre o rumo que está a tomar. Está pois nas mãos das empresas associadas aderirem a esta iniciativa e contribuírem para o desenvolvimento do mercado da Iluminação em Portugal! Aproveito para desafiar todos a entrarem neste “TGV”.
oe: Como caracteriza o mercado dos distribuidores de iluminação em Portugal? Já se denota uma recuperação económica?
RP: Um mercado sólido, experiente, em franca mutação com as regras do jogo a mudar, mas talvez a uma velocidade reduzida, face à velocidade que se está a viver neste mercado. Dentro do material eléctrico a Iluminação está a produzir grandes e ímpares oportunidades de negócio, mas para tal é necessário mudar o chip rapidamente.
Hoje vende-se Iluminação com argumentos e abordagens muito distintas das de um passado muito guiado apenas por preço. A Iluminação deixou de ser algo apenas funcional … passou a ser decorativa, eficiente, reduzindo gastos e acrescentando valor ao mercado através de soluções completas em Iluminação ao consumidor. Sem dúvida que alguns distribuidores já se consciencializaram e, consequentemente, definiram as suas estratégias para novas e diferentes abordagens ao mercado, onde o utilizador final é vital para o desenvolvimento do negócio de iluminação e consequente recuperação económica. Não existe negócio mais “iluminado” do que o da Iluminação para a distribuição em Portugal!